De um modo greal, “bots” são aplicações autônomas, que desempenham algum tipo de tarefa pré-determinada, de forma automatizada e repetidamente. Tipicamente, bots são programas de computador que rodam na Internet autonomicamente, coletando e/ou distribuindo algum tipo de informação.
Bots podem ser úteis e inofensivos para os usuários em geral, mas também podem ser usados de forma abusiva e antiética para espalhar fake news, e até por criminosos para coletar informações privadas de pessoas.
Uma pesquisa da Imperva, verificou que, em 2016, os bots corresponderam a mais de 50% do tráfego total da Internet. A pesquisa se baseou em 17 bilhões de visualizações de aproximadamente 100 mil páginas aleatórias diferentes. Desse montante, o estudo concluiu que 29% dos bots eram maliciosos, enquanto 23% eram bots úteis. O restante, cerca de 48% foram visualizações feitas por humanos.
Um exemplo simples de como essa tecnologia facilita a vida digital pode ser visto nas timelines das redes sociais. Se timelines não fossem automatizadas, para atualizá-la seria preciso que os usuários visitassem cada página, grupo ou amigo para saber das útimas fotos, notícias e postagens.
O “robô” comanda um mecanismo que alimenta o Feed de Notícias. Ele pode ser entendido como um bot, capaz de entender algumas de suas preferências, e buscar, em diversos sites, notícias que possam lhe interessar. Tudo em um curto espaço de tempo curto, que seria impraticável para uma pessoa de verdade.
As plataformas de busca, Google, Bing, etc., também usam bots para vasculhar a Internet continuamente a fim de descobrir novos sites e adicioná-los ao índice de busca. Esse processo implica em seguir os links que esses sites carregam, determinar que tipo de conteúdo promovem, se são seguros ou não, entre outras coisas.
Muitos bots são utilizados com propósitos antiéticos ou criminosos. Entre estes propósitos, temos: (1) busca por sites vulneráveis que possam ser invadidos para roubo de informações privadas ou instalação de viruses; (2) ataques com a finalidade de derrubar o site; (3) disseminar informações falsas na internet e redes sociais (as polêmicas Fake News); (4) fazer se passar por humanos e artificialmente seguir e espalhar comentários em redes sociais.
Um exemplo bastante frequente de bots malignos são os chamados ataques DDoS, em que os responsáveis coordenam uma quantidade enorme de robôs para inundarem de acessos e requisições uma determinada página — ou serviço de Internet — de tal forma que esse site acabe saindo do ar por ser incapaz de suportar a demanda.
Outro tipo de bot malicioso visa detectar vulnerabilidades. Esse tipo de robô percorre os sites, testando cada página contra vulnerabilidades clássicas. Se detectar que o site está vulnerável, o bot comunica para o hacker que o controla, e o criminoso pode agir, invadindo e causando prejuízos, como a interceptação de senhas e outros dados.
Há também o bot empregado em casos de phishing. Este tipo de robô é capaz de enganar usuários desatentos e desprotegidos, fazendo com que eles visualizem um site falso, visualmente idêntico ao original, como forma de tentar obter dados, que pode ser senhas, logins e até credenciais bancárias.
Pesquisadores da Universidade de Indiana, nos EUA, publicaram um estudo onde avaliaram 14 milhões de mensagens compartilhadas no Twitter com foco nas eleições presidenciais americanas, entre os meses de maio de 2016 a maio de 2017.
O estudo encontrou evidências de que bots participaram disproporcionalmente na difusão de fake news, principalmente como os difusores iniciais, antes da mensagem viralizar. De acordo com a pesquisa, apenas 6% de todas as contas do Twitter identificadas como bots eram responsáveis por 31% do total de notícias falsas veiculadas naquela rede social, atingindo milhares de usuários em menos de 10 segundos.
Giovanni Ciampaglia, um dos do-autores do estudo, explica que as pessoas tendem a confiar mais em mensagens que aparentam ter sido reenviadas por muitas pessoas. Os bots conseguem espalhar mensagens rapidamente, e fazer com que elas pareçam populares, atraindo a confiança de humanos que ajudam a compartilhá-las, sem verificar sua autenticidade.
Corroborando estes resultados, um outro estudo de pesquisadores do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachussets), demonstrou que informações falsas se difundem “mais longe, mais rápido, mais profundamente e mais amplamente do que a verdade em todas as categorias de informação”. O estudo também concluiu que robôs aceleram a distribuição de notícias verdadeiras e falsas, mas que os humanos espalham mais as noticias falsas do que as verdadeiras.
O grande problema, no entanto, está na dificuldade em combater os bots. A cada nova intervenção que visa dificultar a criação automática de perfil por um robô, seus criadores modificam a ferramenta e expandem suas capacidades para contornar novos mecanismos de captcha e outros instrumentos de segurança.
Bot Sentinel é um sistema avançado que utiliza inteligência artificial para classificar perfis suspeitos no Twitter. A ideia é detectar trollbots, que são contas controladas por humanos cuja finalidade é disseminar mensagens falsas, ou de ódio, possam viralizar e afetar artificialmente o discurso político e a percepção dos usuários sobre determinados assuntos. Até o dia 16 de maio, o Bot Sentinel tinha detectado mais de 159 mil trollbots no Twitter.
De acordo com Christopher Bouzy, responsável pela ferramenta Bot Sentinel, entre os dias 27 e 28 de abril, o Bot Sentinel registrou a tag #MaiaTemQueCair no topo das publicações feitas por trollbots. Bauzy se mostrou surpreso quando a Bot Sentinel detectou frases e hashtags associadas ao Brasil, no topo da lista.
No dia 27 de Abril no período entre as 12:00 e as 18:00 horas , o Bot Sentinel registrou dentre as tags #coronavírus, #Trump2020, normalmente presentes nas estáticas, a presença da hastag #MaiaTemQueSair, ocupando a primeira posição no ranking.
No mesmo dia (27), a hastag #FechadoComBolsonaro, apareceu no ranking na décima colocação, no período das 16:00 as 17:00 horas.
A hashtag #DerreteMBL, também foi registrada no ranking, ocupando a décima posição no período das 20:00 horas do dia 27 de Abril até as 17:00 horas do dia 28 de Abril.
Segundo a Folha de São Paulo, o caso ocorreu na esteira da revelação pela jornal, no dia 25 de Abril, de que a Polícia Federal teria identificado o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, como um dos articuladores de um esquema criminoso de fake news.
O Twitter se diz trabalhando continuamente para detectar bots que distribuam tweets em massa e tentem manipular os trending topics. O Twitter suspende contas suspeitas e suspende o uso de suas APIs para automatizar o envio de mensagens, quando há abuso.
Apesar dos esforços do Twitter, há estudos que mostram que muitos bots ainda não são detectados pelo Twitter, ou este demora muito para detectá-los.
O fato é que bots com finalidades antiéticas ou criminosas não irão acabar, apesar dos esforços contínuos do Twitter e outras plataformas. O uso de bots para fins políticos é um fato no mundo todo. A corrida entre detectar bots e desenvolver bots cada vez mais “invisíveis” não parece que terá um vencedor a curto prazo. A melhor solução para esse problema sempre será a capacidade humana de ponderar e investigar o que está sendo compartilhado, e fazê-lo com racionalidade e não emoção ou interesses espúrios.
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