Nos artigos anteriores (aqui e aqui), nós analisamos as redes sociais dos candidatos a prefeito de São Paulo, e frisamos o fato de que Bruno Covas era o candidato com maior engajamento em suas postagens, mas Guilherme Boulos era o candidato com maior ganho de novos fãs e seguidores. Assim, não foi muito surpreendente que Covas e Boulos terminaram o primeiro turno na frente dos demais, indo agora para o segundo e decisivo turno no dia 29 de novembro de 2020.
Sabendo agora a quantidade de votos que cada candidato recebeu no 1º turno, nós iremos neste blog, utilizar dados extraídos das redes sociais para estimar o percentual de votos válidos que cada candidato receberá. A ideia é verificar se as redes sociais podem servir como indicadores relevantes da intenção de voto (ou pelo menos tão relevante quanto pesquisas de opinião pública).
Esta análise tem como base o seguinte:
Com isso poderemos estimar o percentual de votos válidos a ser recebido pelos dois candidatos Bruno Covas e Guilherme Boulos, se a eleição fosse realizada no dia 27 de novembro de 2020 (último dia para o qual coletamos dados antes da publicação deste blog). Como sempre, os dados foram coletados pelo Odysci Media Analyzer.
A figura abaixo mostra o número de fãs e seguidores dos candidatos Covas e Boulos no dia 27 de novembro, para as 3 redes sociais monitoradas.
Uma análise mais detalhada do aumento no número de fãs e seguidores, mostra que nos 12 dias após o 1º turno, o crescimento foi acelerado na primeira semana, e depois voltou a níveis anteriores, como pode ser visto na figura abaixo (mesmo considerando somente 5 dias na segunda semana).
O grande número de “novos fãs e seguidores” na semana do dia 16 a 22, se deu provavelmente devido a um realinhamento dos fãs e seguidores dos outros candidatos, que após o 1º turno decidiram seguir Covas ou Boulos. Nós faremos uma análise de quantos fãs foram para cada candidato a seguir.
A fim de estimar quantos votos de cada candidato perdedor será transferido para um dos dois candidatos vencedores, nós analisamos os comentários postados nas páginas dos perdedores na semana seguinte ao 1º turno (dias 16 a 22 de novembro, quando consideramos que foram transferidos a maior parte dos votos). Esta análise procurou estimar quantos comentários (percentualmente) feitos na página de um candidato perdedor seriam favoráveis ou desfavoráveis ao candidato Covas ou ao candidato Boulos, e usamos estas percentagens como indicativos do percentual de votos transferidos a um candidato ou a outro.
Por exemplo, o seguinte tweet mencionando Márcio França:
@marciofrancasp Vai lá e fala que vai apoiar o Covas
é contado como sendo de um seguidor de Márcio França que agora irá transferir seu voto para Bruno Covas.
Por outro lado, o tweet:
@marciofrancasp Parabéns! Agora é apoiar o Boulos.
é contado como sendo de um seguidor de Márcio França que irá transferir o voto para Guilherme Boulos.
Minerando os comentários feitos nas páginas do Facebook e Twitter dos candidatos Márcio França, Celso Russomanno, Arthur do Val, Jilmar Tatto, Joice Hasselmann, Andrea Matarazzo, Marina Helou, Orlando Silva, Levy Fidelix e Vera; extraindo e contabilizando os termos de suporte e rejeição a Covas ou Boulos, chegamos aos seguintes números indicativos da transferência de votos.
A figura acima indica, por exemplo, que segundo nossa análise, 74% dos eleitores que votaram no candidato Márcio França, no segundo turno votarão em Guilherme Boulos, enquanto 26% votarão em Bruno Covas. No caso de Arthur do Val, estimamos que 41% dos votos recebidos serão transferidos para Boulos, enquanto 59% irão para Covas. Mais a seguir, nós usaremos estas percentagens para calcular o número total de votos transferidos.
A intençao de voto acumulada por cada candidato será a soma de:
As tabelas abaixo mostram como foi a votação no 1º turno das eleições para prefeito em São Paulo.
Com o número de votos recebidos por cada candidato perdedor, e com os percentuais de transferência de votos da figura anterior, podemos estimar o número de votos que Covas e Boulos teriam em 22 de novembro, como mostra a tabela abaixo:
A fim de estimar as novas intenções de voto recebidas por cada um dos candidatos entre 23 e 27 de novembro, nós iremos utilizar o crescimento relativo de fãs que as redes sociais de cada candidato tiveram.
Recapitulando, a segunda figura deste blog mostra que nos dias entre 23 e 27 de novembro, o candidato Boulos recebeu 66.404 novos fãs e seguidores, enquanto o candidato Covas recebeu 6.179 novos fãs e seguidores. Mantendo as mesmas proporções, podemos dizer que para cada 100 novos fãs e seguidores, 91 vão para o Boulos, e somente 9 vão para o Covas.
Com base nessas proporções, podemos agora estimar o número de novos votos que cada candidato receberá no dia 29 de novembro. Para tal, precisamos estimar quantos novos votos válidos serão feitos. No primeiro turno tivemos 1.015.314 votos inválidos (nulos ou brancos), e 2.632.537 abstenções. Este nível de abstenções (29,3%) foi mais alto do que eleições anteriores (21,84% em 2016 e 18,48% em 2012, primeiro turno), o que até certo ponto era de se esperar devido à pandemia de Covid-19. Em 2012 o número de votos válidos no segundo turno foi menor do que no primeiro turno. Já em 2016 não houve segundo turno, mas o número de votos validos foi cerca de 400 mil a mais que em 2020.
A figura abaixo faz estimativas dependendo do número de novos votos válidos serem feitos no domingo. Consideramos que se houver aumento de votos válidos, estes se distribuirão na proporção 9 para Boulos e 1 para Covas, seguindo a proporção de novos fãs e seguidores. A figura considera os seguintes casos:
Este blog analisou as redes sociais dos dois candidatos a prefeito de São Paulo, entre o 1º turno das eleições (15 de novembro) e a antevéspera do 2º turno das eleições, 27 de novembro de 2020.
Baseado nos dados do Facebook Instagram e Twitter dos candidatos, nós fizemos as seguintes análises:
É interessante notar que apesar do voto ser obrigatório no Brasil, o número de abstenções no 1º turno foi relativamente alto em São Paulo. Nossa análise indica que novos votos estão se distribuindo desigualmente entre os candidatos, assim, numa eleição apertada como esta, o candidato que conseguir mais simpatizantes irem às urnas terá maiores chances de ganhar.
Lembrando que estas estimativas foram feitas unicamente através de análises das redes sociais dos candidatos e, portanto, são suscetíveis a erros e variações diárias. O propósito principal deste artigo é pesquisar como dados de redes sociais podem servir para estimar, dentro de uma margem de erro aceitável (semelhante às pesquisas eleitorais, +/-2%), os resultados de eleições, principalmente entre 2 candidatos somente.
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