Estas foram as 25 hashtags mais usadas em comentários nos primeiros 6 meses de 2020, considerando cerca de 14 milhões de comentários coletados de mais de 800 páginas (business pages) do Facebook, Twitter e Youtube. Veja a seguir detalhes de como fizemos isso, e as hashtags mais utilizadas em cada mês.
Hashtags são tão difundidas nas redes sociais hoje em dia, que nem lembramos da razão principal do porquê foram criadas.
O símbolo “#” tem sido usado com finalidades diversas em computação desde os primórdios das linguagens de programação. No campo da internet e comunicações, uma das primeiras adoções do símbolo foi para rotular e agrupar tópicos dentro das redes IRC (Internet Relay Chat), um dos primeiros protocolos de comunicação entre usuários (i.e., “chat”). O símbolo “#” era usado para designar canais e tópicos disponíveis nas redes de comunicação.
Nas redes sociais, em particular no Twitter, o primeiro uso de hashtags é atribuído a Chris Messina com o seguinte tweet:
How do you feel about using # (pound) for groups. As in #barcamp [msg]?
(tradução livre: “Que tal usar # (jogo-da-velha) para grupos, como em #barcamp [msg]?”, tweet original de Chris Messina propondo ao Twitter que adotasse o uso de hashtags pelo símbolo ‘#’ em 23 de agosto de 2007).
Apesar do Twitter não aceitar a sugestão inicialmente, os usuários começaram a usar ‘#’s em larga escala, e em poucos anos, hashtags se tornaram o modo aceito por todas as redes sociais para agrupar e rotular mensagens.
Hoje em dia, hashtags são usadas para finalidades diversas, mas ainda com 3 propósitos principais:
As redes sociais não impõem um limite estrito no número de hashtags que podem ser colocadas em uma mensagem. O Instagram limita em 30. O Twitter limita indiretamente pois há um limite no número de caracteres na mensagem. O Facebook não impõe limite. Há diversos estudos sobre a quantidade ideal de hashtags em uma mensagem para obter maior engajamento, e isso depende um pouco da rede social utilizada (para Twitter veja, e para Instagram veja) e do seu segmento de mercado.
Hashtags em uma postagem ou tweet feitos pelo dono do perfil visam propagar uma ideia compatível com o perfil, com a marca ou com a mensagem. Por outro lado, olhando as hashtags do lado do usuário (fã ou seguidor), o uso de hashtags nos comentários indica suporte ou repulsa a uma ideia ou mensagem, e muitas vezes as hashtags utilizadas nos comentários não têm nada a ver com a postagem original sob a qual o comentário é feito.
Nesse trabalho nós analisamos mais de 14 milhões de comentários postados em 816 páginas das redes sociais Facebook, Twitter e Youtube nos 6 meses entre 1º de janeiro de 2020 a 30 de junho de 2020. Desses comentários, cerca de 984 mil continham uma ou mais hashtags, como detalhado na tabela abaixo:
As 816 páginas de redes sociais analisadas incluíram business pages de diversos segmentos:
Nós especificamente excluímos páginas de políticos (como as do Presidente Jair Bolsonaro) pois estas tendem a conter hashtags bem específicas, que poderiam polarizar nossos resultados. O conjunto de 14 milhões de comentários utilizados não representam todos os comentários postados nas páginas, mas uma parcela significativa. Para cada publicação (postagem, tweet, vídeo) feita pelo dono do perfil, nós coletamos até 3000 comentários – na grande maioria dos casos isso são todos os comentários feitos no post, tweet ou vídeo. Todos os comentários foram anonimizados, isto é, sem a informação sobre quem os escreveu. Nenhuma página pessoal foi coletada, e todos os dados coletados são públicos.
Nós coletamos os comentários, como descrito acima, de 1º de janeiro a 30 de junho de 2020, e calculamos o número de vezes que cada hashtags apareceu em um comentário, mês a mês, e no total. Depois selecionamos as 25 hashtags mais populares em cada mês. Apesar do grande número de hashtags, as mensagens nelas contidas não são tão variadas. Muitas hashtags propagam mensagens semelhantes ou relacionadas – assim, para facilitar a visualização, nós utilizamos as mesmas cores para designar hashtags relacionadas, como mostra a tabela abaixo.
Em geral, a política dominou as hashtags nesses primeiros 6 meses de 2020, com algumas notáveis exceções devido a eventos pontuais, como descritos abaixo. E também, como era de se esperar, as hashtags tendem a acompanhar os acontecimentos, sejam a favor ou contra. Vamos ver em detalhes as 25 hashtags mais populares em cada mês.
Janeiro foi dominado por hashtags provocadas por 3 eventos principais.
Apesar do carnaval, as redes sociais começaram a apresentar tons políticos em Fevereiro.
Em março, a novidade foi a chegada do Coronavírus nas redes sociais (pois no país provavelmente chegou bem antes).
O aumento da crise do coronavírus, aliado à saída de Sergio Moro do governo, contribui para polarizar as opiniões expressas pelas hashtags, contra e a favor do governo
A política mais uma vez dominou as hashtags utilizadas. Com a piora da crise do Covid-19 e a aproximação do governo ao chamado “centrão”, as hashtags contra e pró governo se mantiveram no top.
Em junho, mais uma vez, Luan Santana mostrou seu poder de atrair fãs com suas lives, e o bate-boca político continuou nas hashtags também. Uma nova hashtag #convocacaixa também se destacou.
As hashtags que se mostram populares mês após mês indicam tendências. Por exemplo a hashtag #forabolsonaro iniciou na 13a posição em fevereiro, passando para 4o-lugar em março, 3o-lugar em abril, e 1o lugar em maio e junho, se tornando a lider das hashtags individuais em valor cumulativo, como mostra a figura abaixo.
As hashtags pró-bolsonaro se diluiram em vários nomes diferentes (e.g., #fechadocombolsonaro, #bolsonaro2022, #euapoiobolsonaro, etc.), mas quando agrupados (i.e., somando-se os números de hashtags contendo a “mesma” mensagem), as pró-bolsonaro ainda tiveram a liderança nos 6 meses, seguidas de perto pelas hashtags contra-políticos-e-stf, como se pode ver na figura abaixo.
Uma análise interessante, apesar de não tão surpreendente, é calcular quantos comentários contêm mais de um grupo de hashtags. Será que um mesmo comentário tem hastags pró-bolsonaro e contra-políticos-stf, ou sobre coronavírus?
De todos os 984 mil comentários com hashtags, 100.945 continham hashtags pró-bolsonaro, 68.202 continham hashtags contra-bolsonaro, e 82.677 continham hashtags contra-politicos-e-stf.
Comentários com hashtags pró-bolsonaro E contra-politicos-e-STF somaram 14.014. Ao passo que comentários com hashtags contra-bolsonaro E contra-politicos-e-STF somaram apenas 276.
Curiosamente, 2 comentários continham hashtags pró-bolsonaro e contra-bolsonaro. Olhando o texto destes comentários fica claro que o autor não entendeu direito o sentido de algumas hashtags.
De todos os comentários com hashtags, 43.715 continham hashtags relacionadas ao coronavírus. Alguns destes comentários também continham outros grupos de hashtags, como mostrado abaixo. A maior intersecção, 1264, se deu entre comentários contendo hashtags sobre coronavírus e contra-bolsonaro. Comentários contendo hashtags sobre coronavírus e contra-politicos-e-STF somaram 846, e contendo hashtags sobre coronavírus e pró-bolsonaro somaram somente 606.
Comentários com hashtags relacionadas à imprensa e meios de comunicação somaram 63.545. A grande maioria destes comentários era crítico à imprensa. Destes comentários, aqueles que também tinham hashtags pro-bolsonaro somaram 9.412. Comentários com hashtags contra-políticos-e-STF E sobre a imprensa, somaram 8.556. Comentários com hashtags contra-bolsonaro E sobre a imprensa foram somente 174. E por fim, comentários com hashtags sobre coronavírus E sobre a imprensa somaram 957.
Hashtags podem ser muito úteis em marketing para difundir uma mensagem ou posição da marca em relação aos seus valores e produtos. Por exemplo, a Budweiser se deu muito bem com as hashtags #beaking e #beakingnolollabr e as campanhas associadas. Os fãs se identificaram com a campanha e fizeram destas hashtags as mais comentadas no mês de março. Outro que soube bem juntar hashtags com eventos, foi Luan Santana, que teve as hashtags sobre suas “lives” chegarem ao segundo lugar em abril e junho. O Magazine Luiza também começou bem janeiro com sua campanha de cupons e sua hashtag #outletmagalu, porém alguns clientes insatisfeiros postaram hashtags críticas, como #fraudemagalu e #magalucaloteira.
Em geral, as marcas devem monitorar as redes sociais e, na medida do possível, evitar lançar campanhas quando o cenário político está muito agitado, pois a concorrência nas redes sociais será grande. Por outro lado, as marcas podem também se beneficiar ao alinhar suas campanhas com mensagens de interesse público, como por exemplo incentivando #fiquemcasa.
Sem dúvida, o cenário político e a crise do coronavírus dominaram as hashtags destes primeiros 6 meses de 2020. Ficou claro, que mesmo em páginas de redes sociais de empresas diversas, os usuários insistem em demonstrar suas tendências políticas através de hashtags. As várias estatísticas levantadas mostraram uma boa consistências no uso de hashtags. Aqueles que usam hashtags pró-bolsonaro tendem a criticar mais outros poíticos e o STF, criticar mais a imprensa, e falar menos sobre a crise do coronavírus. Ao passo que aqueles usam hashtags contra-bolsonaro tendem a criticar menos outros políticos e STF, criticar menos a imprensa, e falar mais sobre coronavírus.
O uso de hashtags recorrentes demonstra tendências que podem ser medidas mês a mês, e isso pode ser muito útil para marcas e também políticos que queiram medir o pulso de seus fãs e seguidores.